quarta-feira, 7 de março de 2012

Aos Braços de Morfeu





Por Laura Carvalho

Um grito me despertou no meio da madrugada. Acordei assustada: “De onde vem esse grito?” – pensei. Ainda trôpega de sono, olhei pela janela: tudo em paz. Silêncio no quarto e na rua, nenhum movimento a não ser meu peito descompassado. Confusa, voltei para a cama, ainda com ecos daquele grito na mente. Quando consegui relaxar e estava para ultrapassar aquela doce fronteira que separa o sonho da realidade, encontrei a fonte do grito: era minha alma, que tão profundamente tocada, ao se ver sozinha, clamara por quem a marcou.

Com olhar distante, ela me indagou: “Por que fizeste isso? Como podes me expor a semelhante sublime maldição? Eu, que sou tua essência, tua guia, teu ser. Agora me ofereces um encontro apenas na fluidez das quimeras? E se quando acordares ele não estiver lá? Vais sofrer e eu junto, com a lembrança de um sonho a escapar-te a medida em que despertas”.

“Tola” – respondi-lhe. Acaso não sabe que duas almas quando se tocam já não são dois elementos isolados, mas duas partes de um todo único e indissolúvel?  Ele vai estar comigo a cada sorriso que outros enxergarem em meu olhar, a cada pensamento suspirado, a cada desejo contido até o momento de nossos corpos se encontrarem novamente. E quando a saudade não couber mais no peito, a ponto de extrapolar as barreiras, vou te enviar ao encontro do nosso elemento perdido finalmente encontrado, aquela parte dele que, de tão igual a ti, te causa tal abstinência insana apenas por estar ausente”.

“Venha comigo, companheira” – chamei, oferecendo-lhe minha mão – “adentremos as terras de Morfeu, onde a distância não separa duas almas amantes”.

Olhando então para o espaço além dos portões que libertam as almas, ela me deu a mão, mas não sem antes fazer uma última pergunta: “E se ele não estiver lá?”. “Não se preocupe” – afirmei, já nos encaminhando para transpor a entrada – “ele vai estar lá!”.