sábado, 5 de novembro de 2011

Quando o Virtual se Tornou Real



Por Rafael Rivas

Estava entrando na festa quando a vi, também entrando. Me assustei. Perguntei para mim: será ela? Na verdade, nem sei bem se a vi ou se pensei que via. Minha lembrança a reconhecia, mas meus instintos, meu faro e meu tato ainda não. Olhei de longe, em meio a identidades e comandas, chamados e revistas íntimas, fumaça e New Order rolando no fundo, aqueles negros cabelos cumpridos, o corpo vestindo preto e rapidamente o rosto, que até então só poderia lembrar pelas fotos do Facebook. Ela era irmã de um ex-colega do tempo do primeiro grau, um ano mais nova que nós. Tanto tempo... Será ela?, ecoava no meu pensamento. Tinha estabelecido com ela um superficial contato virtual, pelas redes sociais, dada a proximidade pretérita.

Algumas Devassas depois, já embalado ao som de Boys don’t cry, vi ela passar novamente. É ela!, pensei. Tentei achá-la novamente por entre aquele amontoado de gente. Não deu. Esperei por outro momento. O lugar era pequeno, haveria de encontrá-la novamente.

"Say you, say me", meu álibi tinha ido ao banheiro e, enquanto esperava, vi ela com seu vestido preto e suas amigas entrando no toalete feminino. Pensei: mando ele esperar se voltar antes, mas tiro a dúvida para não perder a noite insone. Raciocinei algumas palavras prontas para dizer caso ela passasse sem me ver. Pegaria ela pelo braço e perguntaria seu nome, o que me daria a deixa de saber se era realmente quem eu imaginava. Ela saiu do banheiro. E foi mais rápida. Veio em minha direção, com olhares de quem já me reconhecera e me deu oi. Três beijos, um olhar apurado, algumas palavras ao pé d’ouvido por causa da música oitentista alta e um “não vai embora”. Confesso que não sei se interpretei bem aquele “não vai embora” ao som de Lionel Richie.

E o pior, teria ela gostado do que viu? Eu teria correspondido ao que ela tinha imaginado pelas fotos do meu perfil do Facebook? Estava mais gordo que nas fotos, diferente do que se lembrava do tempo de escola?

A dúvida pairou e ficou no ar, como um pulo do Dadá Maravilha para cabecear um chuveirinho na entrada da área. Dormirei com a dúvida. Talvez para sempre, pois ela continua off-line.

Que será que ela viu ao me ver? Que será que eu fui para ela naquela noite, ao som dos anos oitenta, numa festa já quase no fim?

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