Por Rafael Rivas
Debruçado sobre um monólito retangular,
Hefaísto não aparecia há mais de dois meses no centro da cidade. Sendo um
importante artesão helênico do séquito do príncipe Arquelau, sua ausência foi
logo percebida por todos, que se preocupavam com a sanidade mental do velho. Arquelau
ordenou a Aristóteles, seu conselheiro, que enviasse Aristófilo, filho mais
jovem de Aristóteles, para ver o motivo da repentina reclusão do ancião e
convencê-lo a voltar ao trabalho na cidade.
Hefaísto martelava a grande
pedra de mármore quando Aristófilo entrou no ateliê se anunciando. Hefaísto largou a tenaz sobre a bigorna, virou-se para a porta e mandou o jovem entrar, voltando a dar atenção à sua
silente e fria pedra amorfa. Coçava a cabeça, a barba, levantava do banco, andava de um lado para o outro, voltava a sentar, batia mais uma vez com o martelo no
formão para aparar as arestas, tentando, sem sucesso, dar forma à rocha.
O jovem, deslumbrado com a
persistência do velho, ainda que não acreditasse na sua capacidade de retirar da
pedra aquilo que ela não necessitava, perguntou: “o que você está procurando?”.
“Espere e verá”, respondeu o artesão, coçando a espessa barba, que lhe atribuía
vinte anos mais que sua verdadeira idade. Aristófilo deu de ombros e foi
embora, um quase nada iresignado por sua falta de êxito.
Mais dois meses se passaram até que Aristófilo fosse ordenado a retornar à casa do artífice, persuadi-lo a
voltar ao trabalho e deixar de lado seu projeto inacabado. Chegando à casa de Hefaísto, logo foi anunciando com voz grave a veemência da categórica ordem do
príncipe Arquelau para que votasse ao trabalho. Hefaísto o conduziu então para a
sala onde o servo do príncipe acreditava jazer o ainda amorfo monólito de mármore.
O velho retirou uma capa magenta que envolvia o grande pedaço de pedra, descobrindo
a imponente estátua de um homem.
Por alguns minutos o jovem
fitou a estátua, que representava a figura de Aristóteles, seu pai. Sem reação
e envergonhado pela descrença na capacidade do artesão, perguntou ao escultor: “Como
é que você sabia que ele estava ali dentro?”.
- Adaptado de outro conto semelhante.
- Os nomes foram utilizados apenas como referência, não correspondendo a datas reais, figuras históricas e sua contemporaneidade entre si.
- Adaptado de outro conto semelhante.
- Os nomes foram utilizados apenas como referência, não correspondendo a datas reais, figuras históricas e sua contemporaneidade entre si.
Hefaísto:
filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses, (ou, de acordo com alguns
relatos, apenas de Hera), era o deus da tecnologia, dos
ferreiros, artesãos, escultores, metais, metalurgia, fogo e dos vulcões na mitologia grega.
Arquelau: do
Grego, Guia, Chefe Do Povo, Governador; primeiro entre
pessoas", "soberano de pessoas".
Aristófilo: do
Grego, Amigo do Imperador.
Aristóteles: do
Grego, Ótimo Conselheiro; filósofo grego (384 a.C. — Atenas, 322 a.C.).
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