sexta-feira, 24 de junho de 2011

A HISTÓRIA DAS COISAS

Bom, é a primeira – e talvez a única – vez que falarei bem da sustentabilidade em meu blog. Não que eu seja um consumista destrambelhado, muito longe disso. Mas não acredito nessa historinha sustentabilidade que a mídia propaga por aí. Serve mais para vender uma falsa imagem do que para proteger e preservar alguma coisa. Mas hoje é por uma boa causa!

Apresento aqui um dos melhores documentários sobre as consequências do capitalismo que eu já tive a oportunidade de ver.

Muitos males são causados pelo consumismo, mormente de produtos que são ostensivamente divulgados nos meios de comunicação em massa.

“A História das Coisas” (The Story of Stuff), de Annie Leonard, nos mostra todo processo de produção em coisas que compramos normalmente.

Nos mostra também que, vivendo em uma imensa euforia e utopia consumista, o homem não percebe o mal que faz à natureza e à sociedade. Destroem ecossistemas, habitats de animais em extinção, poluem rios, desmatam. Tudo em nome do que? De bens? De coisas?

Fala-se muito em sustentabilidade, mas pouco se faz efetivamente para modificar alguma coisa. No máximo, o prefixo “eco” serve como sofisma de empreendimentos imobiliários inescrupulosos.

O documentário já visto por 1.339,611 (versão dublada em português) de pessoas e tráz à baila todo nosso sistema de produção e consumo exagerado, de hábitos consumeristas irresponsáveis.

Não vou me estender muito, pois o documentário já diz tudo.

Fica a dica: antes de consumir, lembre-se onde vai parar seu produto,  descartável ou não, assim como seu esgoto.

Não seja enganado pela “seta dourada”. Faça sua parte. Concentre-se no que faz bem à vida. Ou pelo menos consuma sabendo da merda que acontece.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Um Sorriso nos Lábios






Letícia acorda e olha para aquele homem ao seu lado, com quem se deitara por cinco longos anos. Ela amava e conhecia ele como ninguém.

Apesar disso, embora tenha sido o melhor amante de sua vida, não lhe procurava mais há meses. Ela não se sentia mais desejada. Percebia que os olhares dele escapavam ao dela.

Almoços, jantas e finais de semana sozinha. Qualquer coisa tirava a atenção dele a ela. Sentia-se doente, triste, consternada pela desídia do marido.

Acordou e lembrou:  ele se deitou ao seu lado, na noite anterior, e não a abraçou em concha, não a aliciou. Nada! Estava extremamente áspero há mais de duas semanas. Duro, ríspido no tratar. Não sorria mais para ela. Sequer a beijava no último mês.

Até ontem, Letícia ainda tinha esperanças. Porém, nessa manhã, finalmente percebeu o pior: ele dormiu e acordou com o mesmo sorriso nos lábios.

A Semente de Pedra - Um Conto Aristotélico

Por Rafael Rivas

Debruçado sobre um monólito retangular, Hefaísto não aparecia há mais de dois meses no centro da cidade. Sendo um importante artesão helênico do séquito do príncipe Arquelau, sua ausência foi logo percebida por todos, que se preocupavam com a sanidade mental do velho. Arquelau ordenou a Aristóteles, seu conselheiro, que enviasse Aristófilo, filho mais jovem de Aristóteles, para ver o motivo da repentina reclusão do ancião e convencê-lo a voltar ao trabalho na cidade.



Hefaísto martelava a grande pedra de mármore quando Aristófilo entrou no ateliê se anunciando. Hefaísto largou a tenaz sobre a bigorna, virou-se para a porta e mandou o jovem entrar, voltando a dar atenção à sua silente e fria pedra amorfa. Coçava a cabeça, a barba, levantava do banco, andava de um lado para o outro, voltava a sentar, batia mais uma vez com o martelo no formão para aparar as arestas, tentando, sem sucesso, dar forma à rocha.


O jovem, deslumbrado com a persistência do velho, ainda que não acreditasse na sua capacidade de retirar da pedra aquilo que ela não necessitava, perguntou: “o que você está procurando?”. “Espere e verá”, respondeu o artesão, coçando a espessa barba, que lhe atribuía vinte anos mais que sua verdadeira idade. Aristófilo deu de ombros e foi embora, um quase nada iresignado por sua falta de êxito.


Mais dois meses se passaram até que Aristófilo fosse ordenado a retornar à casa do artífice, persuadi-lo a voltar ao trabalho e deixar de lado seu projeto inacabado. Chegando à casa de Hefaísto, logo foi anunciando com voz grave a veemência da categórica ordem do príncipe Arquelau para que votasse ao trabalho. Hefaísto o conduziu então para a sala onde o servo do príncipe acreditava jazer o ainda amorfo monólito de mármore. O velho retirou uma capa magenta que envolvia o grande pedaço de pedra, descobrindo a imponente estátua de um homem.


Por alguns minutos o jovem fitou a estátua, que representava a figura de Aristóteles, seu pai. Sem reação e envergonhado pela descrença na capacidade do artesão, perguntou ao escultor: “Como é que você sabia que ele estava ali dentro?”.



- Adaptado de outro conto semelhante.
- Os nomes foram utilizados apenas como referência, não correspondendo a datas reais, figuras históricas e sua contemporaneidade entre si.

Hefaísto: filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses, (ou, de acordo com alguns relatos, apenas de Hera), era o deus  da tecnologia, dos ferreiros, artesãos, escultores, metais, metalurgia, fogo e dos vulcões na mitologia grega.
Arquelau: do Grego, Guia, Chefe Do Povo, Governador; primeiro entre pessoas", "soberano de pessoas".
Aristófilo: do Grego, Amigo do Imperador.
Aristóteles: do Grego, Ótimo Conselheiro; filósofo grego (384 a.C. — Atenas, 322 a.C.).