Cuba divide opiniões. Porém, essas opiniões são incrustadas de ideologia, seja de esquerda, seja de direita, mesmo que quase todas essas pessoas que discutem nunca tenham ido a Cuba. Muito se discute sobre a maneira como vivem os cubanos; a repressão e a ditadura exercida pelo Estado ao povo; falta liberdade de opinião e imprensa. Porém, compre-nos perguntar a nós mesmos, em nosso mais íntimo posicionamento, seja conservador, seja reacionário, seja revolucionário, algumas questões: nosso modelo político e de Estado é melhor que o de Cuba?, nossa imprensa livre não é, análoga a essa “ditadura”, escrava de interesses privados, esses causadores de diferenças sociais gritantes?, nossa educação, saúde e consciência política são melhores aqui e nos países liberais do que lá em Cuba?
Só responderei a mim mesmo, essas questões e outras questões, quando ver as respostas com meus próprios olhos. Mas até lá, continuarei buscando uma verdade mais próxima da realidade. Leio artigos de esquerda à direita (entenderam o trocadilho?), e esse me chamou muito a atenção. Foi publicado em uma das revistas que mais sacia meu espírito de justiça. Segue abaixo.
Artigo de Fidel Castro escrito em 30/09/2010 e publicado na revista Caros Amigos
A destruição do mundo está nas mãos de Obama
Por Fidel Castro
Há dois dias, assisti Vanessa Davies em seu programa Contragolpe, do canal 8, da TV venezuelana. Ela entrevistava e multiplicava suas perguntas dirigidas a Basem Tajeldine, venezuelano inteligente e honesto, cujo rosto transparecia nobreza. No momento em que liguei o aparelho de televisão, estava em debate minha opinião de que apenas Obama podia impedir a guerra.
Imediatamente, veio à memória do historiador a ideia do enorme poder que lhe era atribuído. E, com certeza, é assim. Contudo, estamos pensando em dois poderes diferentes. O poder político real nos Estados Unidos está nas mãos da poderosa oligarquia dos multimilionários, que governam não só esse país, mas também o mundo: o gigantesco poder do Clube Bilderberg descrito por Daniel Estulin, criado pelos Rockefellers e pela Comissão Trilateral.
O aparelho militar dos Estados Unidos com seus organismos de segurança é muito mais poderoso que Barack Obama, presidente dos Estados Unidos. Ele não criou esse aparelho, e também o aparelho não o criou. Foram as excepcionais circunstâncias da crise econômica e da guerra os fatores principais que levaram um descendente do setor mais discriminado dos Estados Unidos, dotado de cultura e inteligência, a assumir o cargo
que ocupa.
Em que alicerça o poder de Obama neste momento? Por que eu afirmo que a guerra ou a paz vão depender dele? Tomara que a entrevista da jornalista com o historiador sirva para ilustrar o assunto.
Vou dizer de outro jeito: a famosa mala com as chaves e o botão para lançar uma bomba nuclear surgiu devido à terrível decisão em que isso resultaria, o caráter devastador da arma, e a necessidade de não perder uma fração de minuto. Kennedy e Khruchov passaram por essa experiência e Cuba esteve a ponto de ser o primeiro alvo de um ataque em massa com tais armas.
Ainda lembro a angústia refletida nas perguntas que Kennedy indicou ao jornalista francês Jean-Daniel me fazer quando soube que viria a Cuba e se reuniria comigo. “Será que Castro sabe que estivemos à beira de uma guerra mundial?”
Desde então, decorreu já quase meio século. O mundo mudou; muito mais de 20 mil armas nucleares foram desenvolvidas e o poder destruidor delas é equivalente a quase 450 mil vezes o daquela que devastou a cidade de Hiroshima. Qualquer um tem direito de se perguntar: Para quê serve a mala nuclear?
Essa mala é algo tão simbólico quanto o bastão de comando que permanece nas mãos do presidente como pura ficção.
Ora, bem. Eu me referi não a que Obama seja poderoso ou muito poderoso; ele prefere praticar basquetebol ou proferir discursos. Além disso, foi-lhe conferido o Prêmio Nobel da Paz. Michael Moore exortou-o a que ele o ganhasse agora. Talvez nunca ninguém imaginasse, e ele ainda menos, que nesta etapa final do ano 2010, se ele acatar as instruções do Conselho de Segurança das Nações Unidas — ao qual talvez seja exortado com firmeza por um sul-coreano chamado Ban Ki-moon — será responsável pela extinção da espécie humana.
Fidel Castro Ruz é ex-presidente de Cuba.
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